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Cachaças de Paraty: agora com terroir reconhecido




A história não é só aquilo que se conta. A história também está na terra, nos alimentos, nos aromas, sabores e texturas que experimentamos no que se tira da terra.  A cachaça não fala, mas ela tem uma história para contar:

 

Não é de hoje que se sabe que, entre as cachaças de alambique, a de Paraty tem características bem particulares. Há mais de 15 anos, por meio da mobilização da Associação dos Produtores e Amigos da Cachaça de Paraty( APACAP), o produto da cidade litorânea já ostenta a Indicação de Procedência. “Por volta de 2005 começamos a trabalhar neste processo de busca da Indicação de Procedência. Conseguimos o reconhecimento do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) em 2007 e já desde 2008 usamos o selo da Indicação de Procedência nas cachaças de Paraty”, conta Lúcio Gama Freire, produtor da cachaça Pedra Branca. 

 

 

Indicação de Procedência e Denominação de Origem 

 

A legislação brasileira trata as indicações Geográficas(IG) com duas categorias distintas: a Indicação de Procedência(IP) e a Denominação de Origem(DO). Enquanto a Indicação de Procedência atesta a questão da reputação, da tradição e do renome que uma região tem por fazer determinado produto, a Denominação de Origem leva em conta também características naturais desta região que se refletem no resultado final da fabricação. 

 

No dia 30 de janeiro de 2024 o INPI publicou a modificação do registro da Cachaça de Paraty de Indicação de Procedência para Denominação de Origem. No caso da Cachaça de Paraty, estas características são a variação topográfica do relevo da Serra do Mar; pluviosidade anual alta e temperaturas elevadas e uniformes durante o ano, entre outras. 

 

 

O processo para adquirir a Denominação de Origem

 

 

Desde a Indicação de Procedência – e depois em todo o período de cerca de seis anos até conseguir o selo de Denominação de Origem - sempre houve o apoio de entidades públicas e privadas na busca por oficializar a excelente qualidade das cachaças de alambique de Paraty, como por exemplo, o Ministério da Agricultura e o Sebrae.  Outros apoios se agregaram no caminho. Mas a história toda começou mesmo em 1997, como explica Norival Carneiro, produtor da cachaça Engenho D’ouro. “Teve a participação de um técnico com muito conhecimento da área, Ricardo Zarattini, no que tange na melhoria do parque produtor, começando por equipamentos, instalações e técnicas de produção desconhecidas pelos produtores. Isto sem mudar a essência da produção e aproveitando os conhecimentos ancestrais dos que continuavam a fazer cachaça”, indica. E o processo foi progredindo até a IP.

 


Norival Carneiro, produtor da cachaça Engenho D’ouro. Foto: Divulgação


 

Durante o processo aberto pela APACAP para a Indicação de Procedência, surgiram  indícios de que poderia haver uma busca pela Denominação de Origem. “Fizemos um benchmarking  lá no Sul com os produtores do Vale do Vinho que já haviam passado pelo mesmo processo nós tivemos hoje. Eles explicaram que apenas identificaram o que já eram: da região tal que imprime um fator que é o nosso ‘terroir’. Quando eles nos falaram isso abriram um leque grande pra gente”. diz Eduardo Mello, produtor da cachaça Coqueiro. 

 

Efetivamente a existência de textos e relatos sobre as particularidades da região de Paraty e da cachaça produzida na região desde o século XVIII mostrou aos produtores que eles poderiam almejar a DO.  “Isso fez com que começássemos a pesquisar e juntar com novas instituições que pudessem nos apoiar nisso”, explica Lucio Gama. O dado novo no processo para adquirir a Denominação de Origem foi a participação, também de universidades como a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro(UFFRJ), a Universidade Federal do Rio de Janeiro(UFRJ) e a Universidade de São Paulo (USP).

 



Lúcio Gama. Foto Divulgação.


 

O projeto de pesquisa de mestrado em agronomia “Características Socioeconômicas, Edáficas e Produtivas das Áreas Cultivadas com Cana-de-açúcar (Saccharum sp.) em Paraty” e o de doutorado em fitotecnia “Caracterização Fenotípica da Cana-De-Açúcar (Saccharum Sp.) Utilizada na Área Delimitada pela Indicação Geográfica da Cachaça de Paraty-RJ”, ambos de Giovane Leal Silva, da Coordenação de Ensino, Pesquisa e Extensão do CCG/UFRRJ, foram a base teórica para indicar os fatores naturais no processo de pedido de alteração da Indicação Geográfica de Paraty.  


 

Na medida em que os trabalhos avançaram, surgiu também a parceria com a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq): campus da Universidade de São Paulo(USP) localizado em Piracicaba(SP). O trabalho em conjunto com a APACAP incluiu uma roda sensorial da cachaça de Paraty. “Mandamos as cachaças, fizemos uma série de análises sensoriais completas e começamos a identificar as características principais dos gostos básicos. Fizemos uma análise completa das cachaças para identificar todos os parâmetros”, detalha Lúcio Gama Freire. A partir destas análises, foi feita uma pesquisa de como estes parâmetros estavam ligados às características naturais do solo e da água, por exemplo. 


 

A partir destas parcerias e iniciativas foi possível protocolar, no INPI, o pedido de mudança da Indicação Geográfica  de Indicação de Procedência para Indicação de Origem. Mesmo com a pandemia no meio do caminho, a APACAP e os parceiros fizeram com que o produto atendesse às exigências do INPI para conseguir a DO. “Conseguimos fechar o nexo causal de que o nosso terroir imprime um sabor diferente na nossa cachaça”, conclui Eduardo Mello. 

 



Eduardo Mello. Foto reprodução facebook: Confraria de Cachaça Copo Furado do Rio de Janeiro

 


A partir de agora, os produtores de cachaça de Paraty pretendem aprimorar ainda mais a produção e abrir os caminhos comerciais do produto, como explica Maria Izabel Costa, produtora da cachaça Maria Izabel: “Acho importante é que haja o incentivo para que se plante mais cana em Paraty”. Norival acha que o título ajuda a vender o produto. “Valoriza ainda mais o nosso Nobre destilado de Paraty e, é claro, abre portas sim para a exportação”. 

 



Maria Izabel. Foto reprodução facebook: Cachaça Maria Izabel

 


O sabor

 

Aqui chegamos ao ponto em que, para saber mais, apenas experimentando alguma destas incríveis cachaças. Afinal, elas contam sim uma história, mas não com palavras, e sim com o sabor que vem da terra, do clima e dos conhecimentos centenários das pessoas que as fazem. Que tal pedir uma delas agora? Sem nunca esquecer que o consumo moderado faz com que se sinta melhor o gosto desse incrível destilado brasileiro.


 

Conheça, no link, o documento que estabelece a Denominação de Origem da cachaça de Paraty https://www.gov.br/inpi/pt-br/servicos/indicacoes-geograficas/arquivos/certificados-de-ig/assinado_ig200602-_certificado.pdf


 

Veja mais informações no site da APACAP: http://www.apacap.com.br/index.php

 

 


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